Na parede, sob o zodíaco chinês
a duas cores, o misterioso cortejo
dos dias: não se vê o princípio
nem o fim. Os azulejos reflectem
um movimento confuso e o cliente
do bigode grisalho, já quase bêbado
a meio da tarde, arrelia o patrão
com não sei que insucesso
do Benfica. Na toalha branca
uma nódoa de vinho, indecente
como sangue fresco num passeio
em plena rua. Há moscas presas
na vitrina e uma razão a menos
a cada instante - ainda posso
mudar a minha vida?
Rui Pires Cabral
com a devida vénia, de CAPITAIS DA SOLIDÃO, Edição Teatro de Vila Real, Outubro de 2006
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