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Vou ver os barcos a Leça. Parto
para oeste, vivo, esqueço Kant,
Descartes, meu pai - mas que lá cante
a água junto ao cais. Farto
dos livros, ressuscito: longe, os graves
textos, teorias - testemunhos, vãos
escritos, tão longos, quando as mãos
são breves, tarde, e são vazias. Naves
múltiplas, de papel; simuladores
íntimos, do ser. E livre (ou gasto)
esqueço tais discursos, tais saberes
inúteis, a morte, e quantas dores
se tecem, no silêncio. Leve rasto
último, de luz: as ondas (se as leres).
Diogo Alcoforado
com a devida vénia, in TERRA: PORTO, Edição Exercícios de Dizer, Porto, Maio de 1981
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